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Toda vez que Flávio de Campos vai assistir futebol com os
seus três filhos é a mesma coisa: param o carro no mesmo lugar, fazem o mesmo
caminho até o estádio, comem o mesmo sanduíche de pernil ou de linguiça dos
vendedores ambulantes. "Ainda hoje, com os meus filhos já grandes, temos o
nosso ritual. E posso dizer que os momentos mais sensacionais que eu guardo da
minha relação com o meu pai e com os meus filhos são os momentos que fomos ao
estádio torcer juntos", revela o professor do Departamento de História e
coordenador científico do LUDENS (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Sobre
Futebol e Modalidades Lúdicas) da Universidade de São Paulo.
Como o futebol pode ajudar na educação do seu filho? Entenda
como tirar proveito da Copa do Mundo para ensinar. Assim como ele, muitas
outras famílias brasileiras guardam lembranças como essas na memória. Seja em
casa, seja no bar, seja na praça ou seja no estádio, torcer por algum time de
futebol é uma experiência comum no Brasil. "A identidade futebolística é
um componente muito importante na sociedade brasileira", diz o professor.
É o que acontece, a cada quatro anos, na casa da paulistana
Salua Cury, mãe de três filhos e avó de cinco meninas, quando reúne a família
para torcer pelo Brasil nos jogos da Copa. O ritual é antigo e ela faz questão
de que seja completo: a sala do apartamento ganha decoração verde-amarela,
todos usam camisas da seleção, sopram apitos e cornetas. "A Copa é muito
mais que futebol. É um momento de troca, no qual podemos conversar, brincar e
aprender uns com os outros. Estamos juntos na mesma sintonia", conta
Salua.
Violência e exemplo
Atualmente, porém, muitos pais colocam esse hábito em dúvida
por causa dos frequentes casos de violência que são relatados na imprensa em
dias de jogos - como ocorreu em dezembro de 2013 na partida do Vasco contra o
Atlético Paranaense pelo Campeonato Brasileiro. Ainda que estejamos acostumados
a relacionar esse comportamento violento apenas com a torcida organizada, o
problema está na forma como os torcedores em geral se comportam hoje em dia.
"Uma coisa é torcer porque eu sou a favor daquilo e
quero que dê certo. A outra é quando você passa a ser contra alguma coisa - o
que envolve o desejo de destruição. A partir do momento que você começa a
desrespeitar a torcida adversária, isso é um estopim para desencadear a
violência", explica Katia Rubio, psicóloga e professora da Escola de
Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo e membro da Academia
Olímpica Brasileira.
É difícil apontar por que os torcedores têm se comportado
dessa maneira, mas uma das causas apontadas pelos estudiosos consultados é a
falta de outras referências de vida, de noções e de modelos de comportamento
éticos. "A rivalidade pode se tornar algo saudável, se estimula o espírito
esportivo", explica Leila Tardivo, professora de psicologia na
Universidade de São Paulo (USP).
É nesse ponto que entra a família. "Muito desse
comportamento nós herdamos dos pais. Como o pai é a principal referência da
criança, se ela vai com ele ao estádio e ele xinga o adversário, ela pensa que
pode fazer o mesmo. À medida que cresce, ela acha que deve ser melhor que ele -
e, nesse caso, significa ser mais agressivo do que o pai", explica a
psicóloga.
Por isso a importância de ensinar às crianças os valores que
devem ser respeitados dentro e fora do estádio, para fazer do futebol - e do
esporte em geral - um espaço mais seguro e democrático. "Que os adultos
levem para o estádio as mesmas relações de convivência que desejam para as
atividades em família, como respeito ao espaço do outro e às diferenças",
diz a professora.
Ser torcedor pode ajudar no desenvolvimento de alguns valores importantes, como:
1. Construir identidade
2. Conviver com as diferenças
3. Fortalecer laços familiares e sociais
4. Desenvolver a cidadania
5. Aprender a ganhar e perder
Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/
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