Mochilas muito pesadas, sedentarismo e outros hábitos
inadequados prejudicam a coluna
das crianças. É hora de mudar e promover o bom
desenvolvimento do corpo todo
Estima-se que 80% dos problemas posturais nos adultos têm
início na infância, devido aos maus hábitos durante o período escolar.
Sentar-se de forma inadequada, com as costas tortas ou com uma perna dobrada
embaixo da outra, por exemplo, é um dos fatores que podem provocar o
encurvamento da coluna.
“Postura inadequada
ao carregar mochilas e materiais escolares e carga excessiva não controlada e
mal distribuída tendem a gerar problemas de coluna como a escoliose, a
hiperlordose e a hipercifose”, alerta o fisioterapeuta Helder Montenegro,
especialista em coluna vertebral.
Mas o que são esses problemas?
Saiba mais sobre algumas das principais deformidades na
coluna que podem surgir desde cedo:
- Hiperlordose: é o aumento da curvatura da
lombar e pode ser acompanhada por dor. A fraqueza dos músculos da região, do
tórax e do abdômen (muitas vezes causada por falta de atividade física), além
de sentar-se com a coluna torta, podeprovocar ou piorar o encurvamento. “Se os
pés não tocam no chão, por exemplo, a região lombar acaba sem apoio, provocando
a hiperlordose”, destaca o fisioterapeuta.
- Hipercifose: é
uma alteração na curvatura da coluna torácica, ou seja, é um aumento da
“corcunda”, formando um “C” acentuado, e geralmente está acompanhada dos ombros
enrolados para frente. Ficar muito tempo na mesma posição, carregar mochilas
pesadas e usar salto alto favorecem o desenvolvimento do problema.
- Escoliose: é o
encurvamento da coluna para um dos lados, formando um “S”. Em crianças e
adolescentes, o tipo mais comum é a escoliose idiopática, que não possui causa
conhecida. Contudo, o problema pode ser degenerativo, causado por fraqueza
muscular ou paralisia cerebral, por exemplo; ou congênito, que ocorre pela
malformação dos ossos da coluna vertebral do bebê.
Em cada 10 adolescentes com escoliose, nove são meninas,
porém ainda não se sabe as causas dessa proporção. Diferentemente dos problemas
citados anteriormente, a escoliose não tem tanta relação com os hábitos
posturais. “Assim, a escolha do tratamento mais adequado leva em consideração
fatores como o tipo de escoliose, a faixa etária do paciente, o grau do desvio
e os sintomas apresentados”, diz o ortopedista Rogério Vidal de Lima. Podem ser
indicados uso de colete e cirurgia (quando a curvatura é grave).
Reeducando a postura
É fundamental prestar atenção à postura das crianças quando
estão sentadas – já que passam muito tempo nessa posição na idade escolar – e
também de pé, pois andar encurvado já é uma alteração na coluna que pode
influenciar ombros e cabeça.
Caminhar com as costas curvadas para frente e a cabeça baixa
podem ser resultado da timidez, principalmente em meninas que, durante a fase
da pré-adolescência, tentam esconder as mudanças corporais, como o crescimento
dos seios. “A saúde dos indivíduos durante a fase de crescimento e
desenvolvimento possui uma relação direta com o estudo, o ambiente escolar,
lazer, vida familiar e outras atividades sociais. Assim, a hipercifose, por
exemplo, pode ocorrer também por fatores psicológicos, como a timidez”,
salienta Montenegro.
Segundo o especialista, o simples fato de observar as
crianças já auxilia na detecção de anormalidades na postura, que também podem
ser verificadas por professores nas aulas de educação física, por exemplo. Caso
haja alguma alteração suspeita, a criança deve ser avaliada por um ortopedista.
Orientar os pequenos sobre a boa postura principalmente em momentos de estudo é
essencial para corrigir a posição da coluna.
Fisioterapia também pode ajudar no processo, com atividades
como pilates e RPG (reeducação postural global). “O RPG é o mais utilizado e
com amplo respaldo científico quanto à sua eficácia. O pilates atua na
tonificação principalmente da região abdominal, auxiliando na estabilização da
coluna”, diz Montenegro.
Cuidado com os
hábitos
Para preservar a saúde da coluna na infância e na
adolescência, os pais devem ficar atentos não só com a postura dos filhos
dentro de casa, mas também com outros fatores, como:
- Peso das mochilas: segundo estudos da
Universidade de São Paulo (USP), o ideal é que o peso transportado na mochila
seja de, no máximo, 10% do peso corporal. Ou seja: uma criança que pesa 30kg deve
carregar menos do que 3kg.
- Uso precoce de salto alto: ao usar esse tipo de calçado, a
pessoa tende a projetar o centro de gravidade para a frente, o que prejudica
principalmente as crianças, que estão em fase de desenvolvimento da estrutura
óssea.
- Falta de atividade física: o sedentarismo pode prejudicar
o desenvolvimento muscular da região da coluna vertebral. “A musculatura fraca,
juntamente com as alterações posturais, pode levar a deformidades. A escolha do
exercício físico deve estar adequada à idade e ao desenvolvimento da criança.
Natação livre, basquete e handball, por exemplo, promovem uma extensão adequada
da coluna”, indica o fisioterapeuta.
Segundo dados da Organização Mundial da
Saúde (OMS), nos próximos anos, 85% da população terá problemas na coluna,
resultantes de maus hábitos como uso de salto alto enquanto crianças
Na maioria dos casos de escoliose em crianças e
adolescentes, o tratamento é dispensado. A cirurgia só é indicada quando há
desvios severos na coluna ou quando surgem problemas associados, como alteração
na força e na sensibilidade das pernas
Fonte: Revista Na Mochila
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