Nós participamos do evento “Finlândia: novas tendências em Educação”,
realizado pelo Colégio Rio Branco e Embaixada da Finlândia no Brasil. Entre os
palestrantes estavam a Ministra da Educação e Cultura da Finlândia, Ms. Sanni
Grahn-Laadonen e o Reitor da Faculdade de Educação da Universidade de Tampere,
Risto Honkonen.
Os palestrantes mostraram um pouco da evolução no sistema
educacional e técnicas aplicadas no país, que o fizeram ganhar o reconhecimento
de educação de excelência no mundo. A Finlândia tem as mais altas posições nos
rankings do PISA (Programme for International Student Assessment, ou Programa
para Avaliação Internacional de Estudantes).
A base para se conseguir tais resultados, segundo os
palestrantes está na valorização dos professores, atenção especial aos alunos
com mais dificuldades, valorização das artes e de diferentes formas de
aprendizagem e uma radical redução no número de provas e testes. Valorização e
autonomia do docente, que são altamente qualificados. A concorrência nas
universidades de pedagogia é enorme. Todos os professores são mestres. O fato
de o professor ter autonomia para trabalhar em sua sala de aula também colabora
com a visão social tão positiva. Há um currículo nacional básico, que dita as
linhas gerais do que deve ser ensinado, mas o docente pode escolher os métodos,
os livros, o tipo de didática e inclusive optar ou não pelo uso da tecnologia.A educação é gratuita baseada na igualdade de gênero, raça, Idade
e etnia.
Realmente um exemplo do qual poderíamos tentar seguir em
alguns aspecto, considerando que Brasil e Finlândia são países com características e realidades totalmente
distintas, mas alguns pontos poderiam ser “imitados”, para podermos conseguir
uma educação de mais qualidade para uma maior parte da população.


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Marilucia R. Gonçalves, Celi Piernikarz e Joimar Menezes |
Abaixo uma matéria publicada pela Revista Exame, com a diretora do Ministério da Educação e Cultura daquele país, Jaana Palojärvi,publicada em 2013, mas ainda atual.
10 lições da Finlândia para a educação brasileira
São Paulo - “Educação faz parte da nossa cultura”, explica a
diretora do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, Jaana Palojärvi. A
diretora chega ao Brasil como representante de um dos sistemas educacionais
mais reconhecidos do mundo, com alunos se destacando nas primeiras posições da
principal avaliação internacional de estudantes, o Pisa.
Jaana veio ao Brasil com um discurso otimista: segundo ela,
é possível revolucionar o ensino de um país em algumas décadas. Afinal, é isto
que a Finlândia fez e continua fazendo desde 1970.
Há quarenta anos, o país reviu suas prioridades e
revolucionou o sistema que, hoje, é exemplo mundial apontado pela Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE ) e pela ONU, com o Índice de
Educação Global, no qual a Finlândia integra o primeiro lugar.
No Seminário Internacional sobre o Sistema de Educação do
país, que aconteceu nesta quinta-feira em São Paulo, a diretora do “MEC
finlandês” reiterou a receita do sucesso
educacional, conhecido pela liberdade e flexibilidade que concede a alunos e
professores.
As lições de lá não necessariamente podem ser replicadas por
aqui, por diferenças que vão de escala à cultura. Muitas questões, como as
horas em salas de aulas ou o poder dado aos professores, dividem especialistas
brasileiros. Mas nenhum educador ou agente público pode se dar ao luxo de
ignorar o que um sistema de excelência faz.
Confira abaixo 10 visões da Finlândia de como se deve fazer
educação pública:
1. A educação tem de ser igual e gratuita a todos
Jaana Palojärvi é veemente ao afirmar que as escolas na
Finlândia oferecem a todos ensino de qualidade e gratuito. Por lá, apenas 2%
das instituições de ensino são particulares, e mesmo estas são subsidiadas pelo
governo. Além disso, a diretora defende que o padrão de ensino é o mesmo em
todas as escolas finlandesas e, por isso, as crianças passam a frequentar a
escola do bairro, que está mais próxima de onde elas vivem. Um princípio de
igualdade que equaliza oportunidades.
2. “Mantenha as coisas simples”
Quando perguntada qual o principal conselho que ela teria
para os educadores brasileiros, Jaana hesitou, mas definiu: “foco nos níveis
mais locais”.
Na Finlândia, a educação fica ao encargo do município e,
mais do que isso, do professor. É ele, após muito treinamento, que decide como
passar o conteúdo. Cada escola é livre para criar seu próprio material de
ensino. Para Jaana, isso faz toda a diferença, já que motiva os professores e
incentiva novos modos de ensino, que acomodem as necessidades de cada criança.
“Tem de prestar atenção na realidade da sala de aula. É lá
que a mudança acontece”, disse.
3. Valorização do professor
“O professor é a primeira pessoa na vida do aluno”, explica
a diretora. Em seu país, eles podem não ter os maiores salários (ganham uma
remuneração média em relação a outros setores), mas a carreira de professor é
uma das mais populares. E por quê?
O professor na Finlândia é bem preparado. Ele precisa ser
graduado e ter um mestrado. Passa ainda por treinamento específico para dar
aulas e tem plano de carreira. Nesse contexto, faz sentido que ele tenha a
palavra final dentro da sala de aula. Para o governo finlandês, isso faz toda a
diferença, já que estimula o professor a inovar e torna a profissão mais
inspiradora.
A diretora ressaltou, no entanto, a importância da educação
obtida pelo próprio professor para que ele se torne autoridade máxima.
"Nós demos o preparo e, agora, temos de confiar neles", explica. Esse
quadro de preparo, oferta de oportunidade e consequente confiança nem sempre se
repete no Brasil.
“Não é o dinheiro, eles não fazem pelo dinheiro”, explica
Jaana. Na Finlândia, não existe bônus financeiro para professores com melhor
desempenho. Aliás, tal estímulo financeiro, para eles, é inconcebível.
4. A quantidade de dinheiro não importa
Apenas 6% do PIB, da Finlândia é dedicado à educação. E mesmo assim eles lideram as
avaliações internacionais junto com a Coreia do Sul.
Jaana afirma que a questão não é a quantidade de dinheiro
separada para alguma coisa, mas como você organiza o dinheiro que usa. Lá, há
menos burocracia para se alterar a maneira como se gasta o dinheiro investido.
Em poucos anos a máquina administrativa foi alterada para que o investimento,
embora não o maior do planeta, estivesse entre os melhores em destinação.
5. A quantidade de horas de estudo não importa
A Finlândia não tem escolas de período integral – e os
alunos não têm muita lição de casa. Segundo Jaana, “a qualidade do ensino
existe na sala de aula, e isso se alcança com bons professores”. O sistema
básico e obrigatório de educação também segue essa linha de raciocínio e só
começa com a criança aos sete anos: “nós acreditamos que nossas crianças têm de
ser crianças. Elas não têm de aprender a ler ou escrever antes dessa idade”,
explica a diretora.
6. Atenção aos alunos que podem apresentar mais dificuldades
Na Finlândia, o foco não está no aluno que vai melhor. Pelo
contrário, os professores tentam identificar aqueles que podem ter problemas,
para conseguir mantê-los no sistema.
7. Valorização das diferentes formas de aprendizagem
Existem crianças mais visuais, outras aprendem melhor com
música, outras se podem usar das mãos para compreender um novo conceito. Na Finlândia,
os modelos pedagógicos sustentam diferentes estilos de ensino, segundo a
diretora. O foco não é tanto em conteúdo, mas em análise e apoio de diferente
métodos.
8. Menos tecnologia, mais ensino
Ao contrário do que se pode imaginar, tecnologia não é
supervalorizada na Finlândia. Segundo Jaana, os professores até usam novos
recursos tecnológicos, mas eles não são tão importantes. “São só ferramentas,
não são o conteúdo, que é a chave de tudo”, explica.
9. Nada de testes
Esqueça Enem, vestibular, Enade... Na Finlândia não há
provas nacionais e cada professor está livre para avaliar seus alunos como bem
entender. “Nós não acreditamos muito em testes, estamos mais interessados em
aprender”, explica a diretora. Com professores menos empanhados em provas, eles
passam seu tempo individualizando métodos de ensino ou criando novos.
10. Valorização das artes
Enquanto por aqui a preocupação maior é trazer mais meninas
para as áreas das Exatas, lá é exatamente o contrário. As escolas finlandesas
já têm aulas de artes e música no currículo básico, e a carga horária delas
deve aumentar ainda mais, tentando atrair também a atenção dos meninos mais
matemáticos das salas. "A cada dez anos, muda tudo em Física. Muda tudo em
Química. Por isso o conteúdo não é tão importante, mas ter jovens criativos e
comunicativos é essencial", opina Jaana.
Tópicos: Dados de Brasil, América Latina, Educação, Educação
no Brasil, Finlândia, Países ricos
Fonte: Revista Exame
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